Pular para o conteúdo principal

Vitória Aliada e o reflexo para o Recife

Essa imagem representa um pracinha da FEB - Força Expedicionária Brasileira.




           Quando estudei a Segunda Guerra Mundial ano passado, fiquei pensando quais os reflexos desse conflito para o povo brasileiro, especificamente para o povo recifense. Felizmente, ano passado ganhei um livro que traz um relato em um de seus capítulos dos difíceis momentos vividos pelo povo do Recife quando a guerra terminou. O livro chama-se Retalhos do Passado, escrito pela mãe do meu tio Luciano, Marília Calheiros Guerra.
            O livro Retalhos do Passado é uma espécie de “Atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência”, como diria Dom Casmurro. Pois é com essa temática nostálgica que a escritora Marília Guerra revive os momentos que marcaram sua vida.
            Mas o propósito de escrever esse artigo é repassar para vocês um dos capítulos mais interessantes do livro. 
             Segue o capítulo na íntegra:

Vitória Aliada

        A cinco de maio de 1945, com quatorze anos, ainda interna no Sta. Gertrudes assisti emocionada, ao fim da Segunda Guerra Mundial.
            Durante seis a sete anos acompanhávamos pelo rádio e pelos jornais aqueles acontecimentos nefastos que pareciam não ter mais fim. Apesar de não termos sido atingidos diretamente, sofremos, em parte, suas conseqüências: racionamento da carne, do leite, de certos produtos de primeira necessidade. Também horas de “Black-out” quase todas as noites e, principalmente, o receio de sermos bombardeados pelos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
            Ao afundamento do primeiro navio brasileiro, o Baependi, pessoas exaltadas começaram o “quebra-quebra” em casas comerciais de estrangeiros estabelecidos no Brasil que pertenciam aos países inimigos, gente inocente que nada tinha com aquilo...
          Depois de adulta fiquei na dúvida se foram mesmo os nazistas que afundaram navios brasileiros; não que não fossem capazes de tal ato, mas, por que iriam fazê-lo? Ao governo americano interessava que o Brasil, tivesse a Alemanha como inimiga, o que facilitaria a instalação de bases em várias de nossas cidades litorâneas.
            A FEB lutou na Europa a partir de 30 de julho de 1944.
          O envio de tropas brasileiras, cerca de 20.000 soldados que participaram da tomada de “Monte Castelo” talvez não tenha sido decisivo para a vitória, mas, decerto, roubou a várias famílias muitos de seus filhos, mais de quatro centenas deles, talvez inutilmente, se as minhas desconfianças forem fundadas.
         Os “pracinhas”, como eram chamados, foram recebidos com aplausos e alegria pelo povo brasileiro.
           Voltemos ao dia da vitória aliada. Chegada a Recife e Olinda a auspiciosa notícia do fim da guerra, tocaram em uníssono, os sinos de todas as igrejas das duas cidades. Rezamos em conjunto, agradecendo a Deus o fim daquela carnificina. Chorei mais do que rezei, pensando no grande número de inocentes sacrificados e de suas pessoas queridas que não tinham nada para festejar, de várias nacionalidades.
       Apesar de ter sido comunicada o fim da segunda guerra em maio de 1945, os japoneses continuaram resistindo à frente de batalha. Então, os Estados Unidos, covardemente, lançaram bombas atômicas de grande poder sobre as cidades de Hiroshima e Nagazak, com diferença de três dias, em Agosto do mesmo ano, matando milhares de civis, crianças e velhos, destruindo seus lares. Ainda hoje os remanescentes daquela tragédia, que poderia ter sido evitada, se lembram com horror de tais fatos.
           As guerras continuam sendo para mim, inaceitáveis. Ao invés de serem sacrificadas milhares de pessoas, por que os presidentes que as declaram não se batem em duelo?!

          Esse texto é um verdadeiro relato dos momentos que antecederam o fim da Segunda Guerra Mundial. Espero que tenham gostado! 
           Logo, logo trarei mais novidades!

Comentários

  1. Gostei da pergunta "porque os presidentes que as declaram não se batem em duelo?"

    ResponderExcluir
  2. A genialidade e as divagações da escritora Marília Guerra!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Se você quiser comentar, selecione "NOME/URL" acima de anônimo e digite seu nome. Logo mais estarei respondendo...

Postagens mais visitadas deste blog

Dia do Leitor

Livros, de Van Gogh Em comemoração ao Dia do Leitor, indico um livro muito agradável de se ler. Trata-se de No mundo dos livros, do paulistano José Mindlin, um dos maiores amantes dos livros. Antes de falar propriamente sobre o livro, farei uma breve biografia do maior bibliófilo brasileiro.  José Mindlin nasceu em São Paulo no ano de 1914. Filho dos judeus Ephim Mindlin e Fanny Mindlin, José Mindlin desde criança mostrou seu interesse pela leitura, já que seus pais eram ávidos leitores. De 1932 a 1936, cursa a tradicional Faculdade de Direito do Largo do São Francisco. Trabalhou como advogado, empresário e jornalista. Dentre os seus clientes no escritório onde trabalhava tinha o escritor Monteiro Lobato e o historiador Caio Prado Jr. acusados na época de serem comunistas. No decorrer de sua vida, Mindlin monta aquela que mais tarde viria a ser considerada a maior e mais importante biblioteca particular do Brasil. Infelizmente, em fevereiro de 2010, esse grande bibli...

A escola brasileira e a fragmentação do ensino

* Por Viviane Mosé A educação brasileira é como um linha de montagem, onde a repetição e segmentação imperam. O modelo escolar que ainda predomina no Brasil foi diretamente marcado por dois fatores, a industrialização tardia e o regime militar. Inspirada na linha de montagem de uma fábrica, que fragmentou o trabalho humano tendo em vista o aumento da produtividade, nossa escola se caracterizou pela fragmentação, pela segmentação como modo de ação, como método. A vida escolar se organiza em séries, e os saberes se dividem em diversas disciplinas, sem conexão umas com as outras, ministradas em aulas de 50 minutos, que ainda se anunciam  por um sinal sonoro. O espaço é sempre muito segmentado, dividido por inúmeras salas, corredores, com pouco espaço de convivência, com pouca circulação. O objetivo era segmentar para aumentar a produção, o país precisava produzir mão de obra em massa para suprir a engrenagem industrial que estava nascendo. A escola para todos é uma escola de ...

Para que servem as ficções?

Hoje, fui estudar Português e para minha felicidade apareceu um texto maravilhoso, escrito por Contardo Calligaris. De forma mágica, ele mostra aos leitores a importância das ficções na construção da humanidade.                   Cresci numa família em que ler romances e assistir a filmes, ou seja, mergulhar em ficções, não era considerado uma perda de tempo. Podia atrasar os deveres ou sacrificar o sono para acabar um capítulo, e não era preciso me trancar no banheiro nem ler à luz de uma lanterna. Meus pais, eventualmente, pediam que organizasse melhor meu horário, mas deixavam claro que meu interesse pelas ficções era uma parte crucial (e aprovada) da minha “formação”. Eles sequer exigiam que as ditas ficções fossem edificantes ou tivessem um valor cultural estabelecido. Um policial e um Dostoiévski eram tratados com a mesma deferência. Quando foi a minha vez de ser pai, agi da mesma forma. Por quê? ...