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Mostrando postagens de dezembro, 2011

O Carteiro e o Poeta

Editora Record, 127 páginas " O homem levantou uma esferográfica azul, soprou um bafo para amolecer a tinta e perguntou sem olhar: - Nome? - Mario Jiménez - respondeu Mario Jiménez solenemente." Mario Jiménez, garoto de dezessete anos que inventava o menor resfriado para não fazer os trabalhos marítimos - seu pai, Jose Jiménez trabalhava numa enseada de pescadores - ao dizer solenemente seu nome, tornava-se o carteiro de Pablo Neruda, o poeta do povo chileno.  Ao alvorecer, juntamente com sua Legnano, partia para assumir seu posto. Sua pontualidade era tamanha que Cosme, ou melhor, dom Cosme se impressionava.  Com as inúmeras correspondências guardadas na sua mochila, Mario pedalava em direção à Ilha Negra onde morava seu único cliente, Neruda.  Mesmo sabendo da miséria que receberia, Mario agarrou o emprego - por trás havia uma curiosidade e admiração pelo poeta.  Após certo atraso, típico no Chile, como pontua o autor, o carteiro recebe o salário e, com ele, compra

Teach Yourself Italian

Nessas férias, tenho assistido a alguns filmes italianos, como  Ladrões de Bicicletas e Vermelho como o Céu - ambos com resenhas escritas no Baú Pensante .  Sempre achei a pronúncia italiana muito agradável aos ouvidos e procuro observar os atores conversando. Grazie, buongiorno, arrivederci, a sinistra e outras soam muito bem.  Adoraria viajar pela Itália, conhecer as cidades com suas histórias, comer uma pasta, tomar um caffè num barzinho. Como não posso, ainda, decidi ir aprendendo o italiano, autodidaticamente. Quem sabe é uma forma de ir até lá.  A série de livros Teach Yourself é um bom começo para quem não tem condições de iniciar um curso. O problema é que quem for comprar ou baixar o livro tem que saber inglês, pois toda a explicação é feita nessa língua. Além do livro que tem exercícios respondidos no final, vocabulário e gramática, vem um CD com conversações. O livro é bem didático. Já estou estudando um pouco de italiano com Teach Yourself Italian. Além desse livro, há in

Vermelho como o céu

Rosso come il cielo, título original do filme, foi produzido em 2006. Utilizando um gravador velho e sua fabulosa imaginação, Mirco Mencacci (Luca Capriotti), toscano de 10 anos fascinado pelo cinema, cria as mais encantadoras histórias sonoras. A melodia do vento, as folhas balançando, o respingar d'água, tudo transforma-se nas mãos de Mirco numa história. Parece ser impossível para um garoto que após um acidente torna-se cego. Mas o que para alguns é limitação, para Mirco é algo que impulsionará suas fantasias. Após o acidente, a escola onde ele estudava não o aceita como uma criança normal - o governo italiano nessa época, década de 1970, obrigava por lei que todos os deficientes visuais fossem enviados para instituições especializadas. Enviado para Gênova, Mirco passa a estudar num instituto cristão, administrado por um diretor, também cego, e um conjunto de freiras para auxiliar as crianças. Além disso, havia um padre encarregado de ensinar as crianças leitura em braile, p

Ladrões de Bicicletas

Antonio Ricci, interpretado pelo italiano Lamberto Maggionari, vê-se, como tantos outros italianos, em dificuldades financeiras, agravadas no pós-guerra. Depois de anos desempregado, Ricci encontra uma oportunidade de trabalho - colar cartazes pela cidade, mas para isso terá de utilizar obrigatoriamente a bicicleta para assumir o posto. Como ele havia penhorado, surge nos minutos iniciais do filme um conflito que se estenderá até o final - resgatar sua bicicleta. A saída achada por sua esposa, Maria, interpretada por Lianella Carell, é penhorar todas as roupas de cama, uns novas, outras usadas. Assim, Ricci pôde iniciar seu trabalho.  Entretanto não por muito tempo, pois sua bicicleta é roubada, enquanto ele cola cartazes. A partir daí, juntamente com seu filho de nove anos, Bruno, vivido por Enzo Staiola, Ricci percorrerá toda a cidade em busca da bicicleta e do ladrão. Pelo caminho encontrará personagens incomuns. Ladrões de Bicicleta, de 1948, é uma produção do renomado cineasta it

Poucas Cinzas

Longa lançado em 2008, Poucas Cinzas teria tudo para ser um grande filme, se não fosse a superficialidade do tema abordado e a atuação de Robert Pattison, no papel de Salvador Dalí, o gênio da pintura surrealista. A ideia do filme era retratar a Europa no pós-Primeira Guerra Mundial e o convívio social entre os intelectuais da época, permeado por relacionamentos amorosos, discussões políticas e artísticas   O caos trazido pela guerra e a modernidade, aceleradora da ambição humana, trouxeram para o homem  mudanças na forma do fazer artístico. Com isso, surge o Surrealismo de Salvador Dalí, Frederico García Lorca e Luis Buñuel que compõe o filme.  Na minha humilde opinião, há uma quantidade enorme de informações sobre a época - não explorada pelo filme - que tornaria o longa muito melhor. As poesias de Lorca não foram bem exploradas, a produção de Dalí ficou com rápidas cenas nas quais Pattison rabisca telas e os filmes de Buñuel aparecem umas três vezes. O filme baseou-se nas revelaçõ

Engenho Muriçoca

Árvores, folhas verdes, chão batido. O vento sopra forte, Balançando as folhas. As galinhas beliscam o chão Em busca de alimento. A imensidão verde da cana Desde a primeira vista, encantou-me. As casas simples, com seus tijolos à mostra, Observam os que em sua frente passam. Ao entardecer, a luz do Sol é refletida Pelas folhas lustradas da cana-de-açúcar. Sinto o cheiro de jaca mole, As jabuticabas caídas no chão estão ressecadas, As carambolas ainda estão verdes, Outras de tão madura já estão no chão. No banco de madeira, ao lado da jabuticabeira, Onde escrevo estes versos Relembro algumas passagens da minha infância. Mateus Lins

O garoto da bicicleta

Desde semana passada venho assistindo a diversos filmes. Hoje, assisti a O garoto da bicicleta. Trata-se de uma produção, ganhadora do Grande Prêmio do Júri, realizada pelos irmãos belgas Jean Pierre e Luc Dadernne. Esses diretores, segundo a crítica de cinema Isabela Boscov, costumam fazer filmes muito duros sobre o desprevilégio social na Europa.  O garoto da bicicleta é um filme áspero, mas traz uma nota de esperança. Esse longa é uma novidade se tratando de uma produção dos irmãos Dardenne, pois é o primeiro filme deles no qual a música foi introduzida. É um longa centrado na figura de um garoto de 11 anos, chamado Cyril, interpretado pelo ator Thomas Doret, cujo pai o abandonou. Deixado num orfanto, Cyril não aceita a ideia do abandono, buscando informações que trangam uma pista do paradeiro do seu pai. O garoto vai ao apartamento onde morava em busca da sua bicicleta, mas seu pai já havia saído de lá há um mês, assim informou-lhe o porteiro do prédio. Os seus guardiões do orfan

Baú Pensante sugere Chaplin

Estou de férias e nada melhor para fazer do que assistir a ótimos filmes. Chaplin, de Richard Attenborough, é uma boa opção. Já havia assistido a alguns dos filmes de Charlie Chaplin como Tempos Modernos e Vida de Cachorro, mas não sabia muito da biografia do grande cineasta inglês que encantou o mundo com seus filmes mudos. O longa mostra a trajetória do pequeno Charlie, na Inglaterra de 1894, até seus dias de glória como um grande ator e cineasta.  Sua mãe, Hannah Chaplin, era artista, mas não tão boa, assim retrata o filme, além dela ser louca, o que mais tarde faria com que Chaplin a internasse num hospício. Em contrapartida, Chaplin, desde pequenino, já mostrava talento, dançando e cantando.  Separados, Charlie e Sidney, seu irmão, são mandados para um reformatório, saindo de lá anos depois. Chaplin continua com seu dom artístico, fazendo graça. Sidney Chaplin arranja um emprego de comediante para seu irmão, o que foi o início de uma carreira promissora. Com o sucesso na Inglate

Baú Pensante sugere Sede de Viver

Estive na Livraria Cultura à procura de filmes interessantes e descobri, numa das prateleiras, esse filme, Sede de Viver, de 1956, dirigido por Vincente Minnelli. Lust for Life, título original do filme, fala da vida conturbada do gênio do Pós-Impressionismo Vicent Van Gogh, holândes nascido em 1853. Sua carreira foi breve, uma década, mas intensa, chegando a produzir nesse período 800 telas, além de tantos outros desenhos, retratos e autorretratos.  "Os quadros chegam até mim como em um sonho", falou Van Gogh. Não só em sonho, mas também em alucinações, pois constantemente o pintor dos "girassóis de um laranja vibrante" sofria com as crises emocionais, isolando-se de todos em uma solidão dolorosa. Muitos veem nas pinceladas distorcidas e nas cores vivas dos quadros de Van Gogh a prova dos seus distúrbios mentais. O filme também retrata muito bem a Paris do Impressionismo e do Pós-Impressionismo com seus grandes nomes: Cézanne, Gauguin, Seurat, Toulouse-Lautrec, C

Na noite

A noite está quieta e constante. As horas passam e não as vejo. Apenas sinto. Eles foram dormir, Enquanto escrevo Versos às escuras. Assim eles não me veem. Escuto o som dos sonos alheios E eles não percebem. De manhã, estará gravado nos versos: Sonhos e pesadelos; Passado e futuro; Vida e morte. Mateus Lins

À margem do Capibaribe

É manhã. O Sol começa a nascer. O rio não está cheio. Os pescadores lançam as redes. Eles remam ao lado dos peixes, Dos caranguejos e guaiamuns. Ao lado das aves que procuram alimentos. Os raios do Sol são refletidos pela água. Água negra de lama, Lama de mangue. O cheiro é de mangue, O mangue onde há o ciclo do caranguejo. Onde os homens se alimentam dos caranguejos, Onde os caranguejos se alimentam dos homens. O cheiro é de lixo, Lixo da cidade, Lixo-esgoto, Lixo putrefado. O caranguejo-lata da Aurora repousa Ao lado de Manuel Bandeira, Ao lado do Ginásio. João Cabral sentado à margem do Capibaribe Pensa no Severino de Maria, no Cão sem plumas Na engenharia poética. Os olhos, mesmo assim,custam a perceber a poesia Na Aurora ou no rio No mangue ou no lixo. Custam porquê? Mateus Lins

O amor natural de Drummond

Na década de setenta, o mineiro Carlos Drummond de Andrade escrevia o livro O amor natural: uma coletânea de poemas que tem como círculo temático lambidas, pêlos, vulvas, bundas e tantos outros objetos pornográficos e/ou eróticos. Lançado em 1992, o livro, sem dúvida, causou espantos para os mais conservadores, pois, por tradição, Drummond, no máximo, falava em tornozelos - que era objeto de erotismo público, na época. Como falou o blog Obvius, um olhar mais demorado , viu-se a conversão do mineiro comedido em militante póstumo da sacanagem. Publico abaixo dois poemas, encontrados no livro O amor natural: No mármore de tua bunda e A língua lambe. No mármora de tua bunda No mármora de tua bunda gravei o meu epitáfio. Agora que nos separamos, minha morte já não me pertence. Tu a lesvaste contigo. A língua lambe A língua lambe as pétalas vermelhas da rosa pluriaberta; a língua lavra certo oculto botão, e vai tecendo lépidas variações de leves ritmos. E lambe, lambilonga, lambilenta a

O rio

O rio corre, Apressado, ele corre. Os homens não sentem isso? Ele corre de dor. Ele corre, pois tem pressa. Pressa, pois morre. Os homens cegos de sentido, Os homens cegos de alma, Os homens cegos de tudo. São eles que apressam o rio, São eles que matam o rio, São eles que não sentem o rio. Infortuna insensibilidade dos homens Apenas lamento... O rio corre, apressado, ele corre. Mateus Lins

Despudorado soneto erótico

Há uns três anos, li um livro interessante, chamado Minhas histórias dos outros . Agora, não vou falar do livro, mas de uma página. Engraçado ler um livro de duzentas e tantas páginas e só se interessar por uma. Pois é. Interessei-me bastante por esse soneto, como disse Zuenir Ventura "um despudorado soneto erótico." O nome do soneto é A cópula. Meninas, por gentileza, não fiquem coradas! Não passa de uma cópula escrita por Manuel Bandeira. A cópula Depois de lhe beijar meticulosamente o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce, o moço exibe à moça a bagagem que trouxe: culhões e membro, um membro enorme e tungescente. Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinente, Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se. Não desarmou porém. antes, mais rijo, alteou-se E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!" Grita para o rapaz que aceso como um diabo, arde em cio e tesão na amorosa gangorra E titilando