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Mostrando postagens de janeiro, 2023

Donuts

Em meio a uma ligação para falar sobre fofocas aleatórias com um amigo, estaciono o carro no posto de gasolina Shell. Queria comer um Donuts de chocolate com um expresso. Antes mesmo de descer do carro, percebo a presença de um garoto aparentando ter seus 21 anos, cabelo escuro, pele branca e cabelo escorrido, mas curto. Tinha uma bolsa daquelas laterais que está na moda. Shoulder bag como dizem. Ele calibrava o pneu. Num primeiro momento, acreditei que ele estivesse calibrando o pneu do carro preto em sua frente. Eu continuava falando com meu amigo ao telefone e percebi no visor do calibrador o 35, número adequado por se tratar de um carro com pneus muchos. Mas logo em seguida, vi que ele estava com uma bicicleta Caloi. Eu não tinha visto a bike. Fiquei quieto. Não disse nada, enquanto já encaminhava a ligação para o fim. Ele terminou a calibragem e montou no bike, contudo nas primeiras pedaladas notou que a bike não estava tão calibrada assim. Ele retornou. Foi aí que imediatamente e

Jabá

Céu azul, limpo, nenhuma nuvem. Céu azul como se fosse a extensão do mar onde nem mesmo a linha do horizonte era capaz de diferenciar o que era céu e mar.  O dia anunciava desejo de memória. Memória de infância lá em Sirinhaém. Poderia escolher qualquer lugar, qualquer restaurante. Podia ser o Chinês da 48, o Tomaselli do Espinheiro, o Quintal lá de Campo Grande, o Beijupirá, Oficina, Trattoria, em Olinda, o café da Livraria da Jaqueira, algum box do Mercado da Boa Vista, o Poke da Rio Branco, Chico do Galeto, algum restaurante de algum shopping.  Nenhum desses traria ao mastigar o alimento, a memória que eu precisava. Memória de afeto, de mãe, memória de bico de peito farto, jorrando cuidado e nutriente. Eu tinha fome de memória maternal.  Eu queria, ao sentir o sabor, saciar aquela fome que faz roncar o estômago, mas também aquela fome que faz clamar por afeto. Uma epifania dessas não demandaria nenhum local especial, com uma comida elaborada ou gourmetizada. Jamais.  Maternidade com

Mercado da Boa Vista

Atravesso a rua. Saio. É preciso sair para enxergar melhor. É um sair de si para se encontrar. Ploeg visto de perto é lindo. Mas visto de longe se completa. O pórtico do Mercado é belo. Branco e um alaranjado. A entrada anuncia um átrio cravado no centro onde mesas são organizadas, ocupando todo o espaço, guarda-sóis da Coca-Cola abertos, pombos catando migalhas, gatinhos de rua pedindo um pedaço qualquer de comida, muito tempero no ar.  É quente. A garrafa de 600 ml de Brahma suada refresca a garganta no gole sedento. O cheiro no ar, como redemoinhos invisíveis, já acusa o que encontraremos de comer. Regionalismo gastronômico. É comida regional feita por gente simples que fala sem firulas. Tem costela. Tem carne de Sol com queijo coalho frito em cubos. Tem rabada. Tem arrumadinho. Tem galinha cabidela. Tem feijoada. Tem comida caseira. No preço leve pro bolso, mas pesada para uma sesta vespertina. Compensa. O burburinho é constante. Come-se e conversa-se. Vende-se e compra-se. Todos p

Penso, logo rumino

Penso, logo rumino. Essa é a plaquinha que está afixada no meu cérebro. Vi certa vez num livro de filosofia uma placa "penso, logo existo" e quis ter uma moldada à minha personalidade, afixada no portal de entrada.  Pensar é tão bom. Consigo através das sinapses elaborar mil e uma saídas para minhas histórias. Começo dezenas de histórias na minha cabeça e vou tomando nota. Em algum momento, retomo a escrita como se fosse um artesão enxertando pedaços numa obra inacabada.  Deitado, pego meu aplicativo de notas e em digitação acelerada com os dedinhos polegares vou transpondo como uma máquina de datilografar as palavras que me saltam da mente e se afixam nas entrelinhas. Não tem nenhum ruído feito a máquina de escrever. O ruido tá só no cérebro.  Já não sei o que escrever agora, porque já comecei a pensar noutras coisas. A cabeça fica vendo flashes de tantas histórias que parece um show estroboscópico de uma boate. O coração fica palpitando como se tivéssemos ingerido a melhor