Pular para o conteúdo principal

Donuts

Em meio a uma ligação para falar sobre fofocas aleatórias com um amigo, estaciono o carro no posto de gasolina Shell. Queria comer um Donuts de chocolate com um expresso. Antes mesmo de descer do carro, percebo a presença de um garoto aparentando ter seus 21 anos, cabelo escuro, pele branca e cabelo escorrido, mas curto. Tinha uma bolsa daquelas laterais que está na moda. Shoulder bag como dizem. Ele calibrava o pneu. Num primeiro momento, acreditei que ele estivesse calibrando o pneu do carro preto em sua frente. Eu continuava falando com meu amigo ao telefone e percebi no visor do calibrador o 35, número adequado por se tratar de um carro com pneus muchos. Mas logo em seguida, vi que ele estava com uma bicicleta Caloi. Eu não tinha visto a bike. Fiquei quieto. Não disse nada, enquanto já encaminhava a ligação para o fim. Ele terminou a calibragem e montou no bike, contudo nas primeiras pedaladas notou que a bike não estava tão calibrada assim. Ele retornou. Foi aí que imediatamente entrei em ação. Um belo garoto teria a minha ajuda. Não perderia a oportunidade para por em prática minha gentileza. Cheguei mais próximo e disse-lhe que ele deveria aumentar do 35 para o 45. O Pneu da Caloi indicava 50 a 55, mas nunca devemos colocar o número máximo. Vai que o pneu exploda. Ele disse que não sabia qual era o número correto. Fui embora para a loja de conveniência, sem saber se ele entraria para comprar algo ou se iria embora dali mesmo. Comprei meu expresso, meu donuts de chocolate e um pão de queijo recheado. Quando eu já estava esperando meu pedido, noto para minha surpresa a presença do garoto na área externa do posto. Ele entrou na loja com as mãos sujas por ter enchido os dois pneus. Foi em direção para o lavabo. Fiquei em estado de tensão. Depois de lavar a mão, ele foi comprar algo. Observei dos pés a cabeça. Estava com um short preto, uma camisa branca Adidas e uma sandália Havaianas. Aparentava ter seus 1,80. Era alto. Comprou uma garrafa de água mineral e uma barrinha de chocolate ou barrinha de cereal. Não pude prestar tanta atenção, pois meu foco era observar seus passos. Meu pedido estava quase pronto. Vi o momento que ele pagou a conta e vinha na minha direção, enquanto eu ia em direção a minha mesa. Não, não nos cruzamos como em filmes como se fossemos nos beijar. Tomei lugar na mesa, mas pra minha surpresa ele parou e perguntou se tinha sido eu que tinha o ajudado com o pneu. Eu disse que sim ao passo que ele agradeceu, dizendo que tinha funcionado. Meu coração ficou batendo forte. Em tempos de aplicativos, como é difícil saber como flertar no mundo real. Não temos absolutamente nenhum indício que nos ajude a dizer que a pessoa gosta de meninos ou meninas. Falta-se coragem para chegar e pedir o telefone ou até mesmo investir numa conversa. Temos medo. Ou melhor eu tenho medo. Há quem seja especialista em flertes aleatórios em qualquer local. Eu respondi-lhe "de nada". Fui comer. Ele se sentou numa mesa na área externa para comer o que havia comprado. Foi quando vi uma carteira de cigarro na mesa. Logo acelerei o passo da refeição que eu fazia. Meu intuito era comer meu Donuts e apreciar meu café sem nada para me atrapalhar. Mas ocasionalidades ocorrem exatamente nessas situações. Quando não esperamos, aparecem oportunidades. Vi que ele se levantou e foi mais para lateral para fumar um cigarro. Fiquei pensando em desistir de me levantar e comer minha comidinha. Para que eu iria tentar algo com alguém que eu nem conheço, muito menos sem saber se ele curte meninos ou meninas. Em todo momento, trocamos olhares. Enquanto ele estava no caixa, pude perceber que ele tinha um tique nervoso na cabeça que dava um charme. Vai ver ele também estava nervoso com a minha presença. Acredito que não é todo momento que se ver um barbudo na sua frente ajudando-lhe com o número correto para calibrar o pneu. Terminei de comer. Por um tempo pensei não vou inventar de ir lá fora para pedir um cigarro não. Mas por um ato de coragem decidi ir. Sai da conveniência e ele estava fumando seu Malboro Gold e estava distraído mexendo no celular com fones de ouvido. Aproximei-me dele e perguntei se ele poderia me arranjar um cigarro. Ele com um sorriso disse-me que sim. Eu comentei que não comprava carteira para não ficar fumando demais. Ele perguntou se eu também precisava de um isqueiro. Respondi que sim e acendi o cigarro devolvendo-lhe o isqueiro. Eu continuava com meu copo de papel com o resto do expresso. Fiquei fumando. Pensei em perguntar se ele era do Recife. Na minha cabeça parecia um turista que estava passando as férias aqui. Mas não tive coragem de perguntar. Fiquei olhando para ele e para a beleza magnética. Quanta vontade eu tive de puxar um papo, mas não consegui. Fiquei fumando meu cigarro enquanto ele terminou a última baforada e jogou o cigarro na lixeira, após tê-lo apagado na borda metálica. Ele mais uma vez agradeceu por minha ajuda e se foi. Fiquei lá com um misto de felicidade e tristeza. Às vezes, a gente pode ter momentos no dia de desafios como flertar com um total desconhecido, descarregando em nosso corpo cargas de adrenalina. Antes eu tivesse sentado na mesa da área externa e perguntado a ele se ele gostava de rosquinha. Ou melhor, de Donuts. Quem sabe a história teria ganhado outros rumos e o nível de adrenalina estaria me tomando até agora.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Despudorado soneto erótico

Há uns três anos, li um livro interessante, chamado Minhas histórias dos outros . Agora, não vou falar do livro, mas de uma página. Engraçado ler um livro de duzentas e tantas páginas e só se interessar por uma. Pois é. Interessei-me bastante por esse soneto, como disse Zuenir Ventura "um despudorado soneto erótico." O nome do soneto é A cópula. Meninas, por gentileza, não fiquem coradas! Não passa de uma cópula escrita por Manuel Bandeira. A cópula Depois de lhe beijar meticulosamente o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce, o moço exibe à moça a bagagem que trouxe: culhões e membro, um membro enorme e tungescente. Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinente, Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se. Não desarmou porém. antes, mais rijo, alteou-se E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!" Grita para o rapaz que aceso como um diabo, arde em cio e tesão na amorosa gangorra E titilando...

Para que servem as ficções?

Hoje, fui estudar Português e para minha felicidade apareceu um texto maravilhoso, escrito por Contardo Calligaris. De forma mágica, ele mostra aos leitores a importância das ficções na construção da humanidade.                   Cresci numa família em que ler romances e assistir a filmes, ou seja, mergulhar em ficções, não era considerado uma perda de tempo. Podia atrasar os deveres ou sacrificar o sono para acabar um capítulo, e não era preciso me trancar no banheiro nem ler à luz de uma lanterna. Meus pais, eventualmente, pediam que organizasse melhor meu horário, mas deixavam claro que meu interesse pelas ficções era uma parte crucial (e aprovada) da minha “formação”. Eles sequer exigiam que as ditas ficções fossem edificantes ou tivessem um valor cultural estabelecido. Um policial e um Dostoiévski eram tratados com a mesma deferência. Quando foi a minha vez de ser pai, agi da mesma forma. Por quê? ...

Baú Cultural com Lucivânio Jatobá

O Baú Cultural traz um tema muito importante debatido no auditório da Livraria Cultura pelo geógrafo pernambucano Lucivânio Jatobá: Eventos climáticos na porção oriental do Nordeste brasileiro e a análise geográfica. . A palestra foi organizada pelo professor universitário Gilberto Rodrigues o qual coordena a Fundação Gaia - www.ciclogaia.com -  que traz a ideia de promover alterações no modo de olharmos o planeta Terra. A Fundação Gaia promove palestras todos os meses na Livraria Cultura. O Palestrante   Lucivânio Jatobá, no auditório da Livraria Cultura Convidado para ministrar a palestra organizada pela Fundação Gaia, Lucivânio Jatobá nasceu em Pesqueira, PE. Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Ensina nessa universidade desde 1977. Atualmente, ele é professor adjunto do curso de ciências ambientais da UFPE. Com vasta experiência acadêmica, o geógrafo pernambucano lecionou em inúmeras universidades, dentre as quais se destac...