Quando terminei de ler o livro O Carteiro e o Poeta, de Antonio Skármeta, fui em busca de outros livros do autor. Cheguei à BPE, Biblioteca do Estado de Pernambuco, localizada na Rua João Lira, onde tenho conta para locação de livros, e perguntei a atendente onde ficava a seção de autores chilenos. Ela indicou e lá fui eu procurar os livros. Vi vários exemplares, não só do chileno Skármeta, mas de incontáveis autores latino-americanos. Gabriel García Márquez, com o seu livro Cem Anos de Solidão, Isabel Allende com seus romances, dentre os quais destaco Inés da Minha Alma, o peruano Mario Vargas Llosa, o também chileno Pablo Neruda, com suas poesias, tão bem retratadas no O Carteiro e o Poeta e Roberto Bolaño, chileno conhecido pelo seu livro Os Detetives Selvagens. No meio deles, estava lá outras obras de Antonio Skármeta, bem no cantinho da prateleira. O Baile da Vitória, A Velocidade do Amor, Não Foi Nada, O Carteiro e o Poeta, livro pelo qual o chileno tornou-se conhecido. Observei alguns e decide locar o livro Não Foi Nada, livro fininho.
A capa era simpática, me fez lembrar dos livros paradidáticos do Ensino Fundamental. Li rapidamente o resumo do livro e percebi, que assim como em O carteiro e O poeta, Skármeta resgatava o seu Chile, tão distante, pois na época o autor encontrava-se exilado na Alemanha Ocidental. Livro locado, cheguei em casa e sentei-me no sofá. Abri a primeira página, passei em seguida para segunda e assim fui lendo página por página. O interessante foi meu estranhamento no modo como o livro tinha sido escrito. Perguntei-me: Como será que um autor como Skármeta pôde escrever um livro desses, com uma linguagem tão infantil, se, no O Carteiro e o Poeta, ele presenteou o leitor com um livro recheado de metáforas? Depois percebi que não havia nada de errado.
O autor foi inteligentíssimo, pois o narrador, que também é personagem, é um chileno de 14 anos, chamado Lucho, que vai juntamente com a família morar na Alemanha, fugindo da Ditadura do General Pinochet. Com uma linguagem bem adequada para um adolescente que desconhece as malícias da língua na construção de uma boa redação, por isso meu estranhamento, Lucho passa a registrar suas impressões sobre o exílio, como numa espécie de diário. Seus dias na escola, aprendendo alemão, suas brigas, o sofrimento com a xenofobia, seus amigos, que eram gregos e que também estavam fugindo de uma ditadura, sua primeira paixão, seus gostos, a música, motos, futebol.
Skármeta procurou retratar os problemas do jovem, que de um lado sofria com a saudade da terra natal, o calor do Sol chileno, pois na Alemanha, Lucho sofria com o frio, e do outro procurava viver sua juventude, desfrutando das mais intensas experiências. O livro lança um tom reflexivo sobre a adolescência atingida pela busca da identidade: sofrer, pensando com o Chile, os laços, ou viver uma vida totalmente diferente. De certa forma, Lucho terá que, por si próprio, lutar contra seus problemas, buscando no seu eu o encontro da sua felicidade, procurando balancear esse conflito. Além do tom reflexivo, Skármeta lança mais uma crítica, também presente no O carteiro e o Poeta, à Ditadura Chilena. O livro de linguagem fácil e com não mais de 110 páginas mostra aos leitores as aflições daqueles que vivem o sofrimento do exílio, por uma ótica juvenil, como assim viveu o autor do O Baile da Vitória.
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