Quando comecei a estudar espanhol, busquei inúmeros recursos (ler o artigo Recursos para melhorar seu espanhol), dentre os quais os filmes, para melhorar a aprendizagem. Já não sei mais quantos filmes do mundo hispânico eu assisti. Muitos me marcaram, como O segredo dos seus olhos, do diretor argentino Campanella, Diários de Motocicleta, de Walter Salles e a Pele que habito, de Almodóvar. Uma coisa legal é que o meu interesse por esses filmes se desencadeou como em um efeito dominó. Deixe-me explicar. O filme O segredo dos seus olhos é protagonizado pelo ator argentino Ricardo Darín. Dada a sua maestria ao atuar, procurei mais trabalhos dele. Daí que surgiram inúmeros filmes: Um conto chinês, Nove Rainhas, O filho da noiva, Abutres, Família Rodante, Lua de Avellaneda e o que serve de assunto para o prensente artigo Elefante Branco.
Sempre que assisto filmes bons, fico com vontade de escrever resenhas, críticas, qualquer palavra para expressar meu entendimento do filme. Entretanto isso nem sempre acontece. O que faço é buscar críticas pela internet, lê-las e organizar as ideias. Mesmo assim o trabalho não é fácil (parabenizo o árduo trabalho dos críticos, seja qual for sua área de atuação). No fim desisto de escrever e pronto.
O mesmo aconteceu com o filme Elefante Branco. Não consegui organizar as ideias e apelei para uma crítica de um jornal especializado que resume bem e aponta detalhes do filme. Decidi traduzi-la e vos aprasento a seguir:
"Estamos diante
de uma proposta carregada de boas intenções. Desde que o cinema é cinema,
existiu uma tendência, uma corrente ou como queremos denominá-lo – uma maneira
de entender o cinema -, que poderíamos chamar edificante. Um cinema carregado
de boas intenções, que o cinema argentino de valores humanos não poderia por
menos que amplificá-lo. Uma história construída em torno do sacrifício de umas
pessoas cuja entrega beira com mais ou menos intensidade o mistério da própria
religião. Elefante Blanco tem muito disso, não se pode negar.
O núcleo de sua
história forma um triângulo dramático no qual dois de seus lados estão ocupados
por padres em exercício, e onde cada um deles entende o mistério da religião da
sua maneira. Um é Julián (Ricardo Darín), herdeiro das lutas iniciadas pela
Teologia da Libertação. Enquanto que o outro, Nicolás (Jerémie Renier), está
cada vez mais livre das ordens da instituição da qual representa, e mais atento
às necessidades do povo. Ambos estão instalados em um bairro periférico de
Buenos Aires, um gueto de extrema pobreza que cresceu de forma desordenada, ao
lado da sombra protetora do gigantesco esqueleto de um edifício que foi o sonho
paternalista dos sucessivos regimes argentinos: restos de um mega hospital que
nunca chegou a sê-lo (esse Elefante Blanco do qual se refere o título). Entre
os dois, Julián e Nicolás, está Luciana (Martina Gusman), assistente social,
devota de um e fiel do outro. Em torno desses personagens, Trapero constrói sua
história de culpa e redenção.
Mas como Trapero
é um grande diretor, um dos grandes do cinema argentino, sua atenção se abre
com maestria à coletividade marginal dividida em clãs, açoitadas pelas drogas. Cada
movimento da câmera entre as pessoas nos dá a intenção de tocá-las e senti-las,
e cria situações de conflito urbano de um poder cinematográfico inegável. O diretor
de Carancho focaliza o drama para que o sintamos. Mas a parte edificante do
filme, alheio à boa parte da metragem, acaba impondo sua lógica."
Tradução da crítica de Salvador Llopart,
"Elefante Blanco: De hombres con y sin dioses"
do jornal La Vanguardia
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