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Ele chorava porque tinha fome.

André caminhava pela Av. Conde da Boa Vista, avenida dos pedintes. Daqueles entregues à própria sorte. Famintos, viciados, catadores. Ele acabara de almoçar. Estava satisfeito. 
Ao cruzar a rua Sete de Setembro, na altura das Lojas Americanas, André viu de relance uma criança nos braços de um homem cujas feições eram de um agricultor. Não eram simplesmente duas pessoas descansando às portas de uma loja de calçados. O pai chorava. Seu filho aparentava estar doente. As lágrimas escorriam. Seus olhos já estavam bastante vermelhos.
Ambos aparentavam ser retirantes. Pessoas vindas do Sertão esquecido em busca de um serviço de saúde. Serviço muitas vezes precário, se não sempre.
André continuou andando. Ficou com vontade de voltar para saber o que estava acontecendo com aquelas pessoas. Se poderia ajudar com algo. Um trocado, quem sabe. Após chegar no cruzamento da Av. Conde da Boa Vista com a rua do Hospício, André voltou. Pôs a mão no bolso. Retirou uma cédula de dois reais. Era pouco. Mas ajudaria.
Ao lado do homem, André perguntou se ele e o filho estavam com algum problema.
O homem enxugou o rosto, olhou para André e disse que  ele e o filho estavam com fome. 
André entregou o dinheiro, disse que achava que eles estavam precisando e foi embora. Esperou o semáforo dos pedestres abrir. Enquanto aguardava, olhou para trás e viu o homem chorando ainda mais. Ele apertou o dinheiro. Olhou para o filho. Olhou para o céu. Não era apenas a fome. Algo mais incomodava. O filho doente, um familiar morto, enfim era impossível saber.

Mateus Lins

Comentários

  1. Velho, fiquei curioso pra caramba. hahahah sacanagem. oq q era?

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